Canibalismo (1971)
(tradução: Eduardo Reis Oliveira)
Existem várias maneiras de se comer uma pessoa.
Começando que deve ser diferente comer uma mulher do que comer um homem. Tenho visto comerem homens, mas não mulheres. Não sei, eu gostaria de ver uma mulher ser devorada algum dia. Deve ser muito diferente. O que eu sei é que existem três maneiras de comer um homem. Pode-se partir em seis pedaços a pessoa: cabeça, tronco, braços, pélvis, coxas, pernas, incluindo, está claro, mãos e pés. Sei que há gente que corta as pessoas em oito pedaços, já que gostam também de tirar os joelhos, o osso redondo dos joelhos, recoberto pela única porção de carne roxa que o ser humano possui. A outra forma que conheço é comer a pessoa inteira, assim mesmo, com mordidas lentas, comer um dia até fartar-se e guardar o corpo na geladeira e tirá-lo no outro dia para o café da manhã, assim. Como se comesse uma manga, mordiscando. Porque eu posso dizer que eu gostava muito de comer manga verde, e depois veio essa moda de partir a manga em pedacinhos e foi depois de só uma semana que me dei conta que eu já não gostava mais tanto de comer manga verde e soube também que era porque eu as estava comendo partidas, assim segui comprando-as inteiras, comendo a mordidas, e então voltei a gostar quase tanto como quando era criança... A mesma coisa deve-se passar com os corpos. A pessoa que já come gente há séculos deve arrumar maneiras de variar o prato para não enjoar. Eu não sei se vocês leram outro dia na imprensa que haviam encontrado o corpo de um coronel aposentado, metido numa bolsa de papel e amarrado com cordas trançadas, o que disseram foi que haviam encontrado o corpo pelo Clube Campestre, e que havia expectativa devido ao "estranho estado em que se encontrava o corpo", mas como eu sou atento às coisas eu sei que o corpo em questão estava todo mordido. Não comeram todo porque o coronel já tinha 52, ali se deram conta de que não havia nada como carne de gente jovem, fresca. Os olhos, por exemplo, que dizem ser o mais esquisito, dizem que quando a pessoa passa dos 35 se endurecem e estragam, e já não vale a pena comê-los.
Da wikipédia, sobre o suicídio de Caicedo:
Fiel a sua idéia de que viver mais de 25 anos é uma insensatez, Andrés tenta suicidar-se duas vezes em 1976; apesar disso escreve mais dois contos: Pronto e Noche sin fortuna, e aparecem os números 3, 4 e 5 da revista Ojo al cine. Entrega a Colcultura o manuscrito final de ¡Que viva la música!, do qual receberia um exemplar editado em 4 de março de 1977; nesse mesmo dia ingere intencionalmente 60 pastilhas de secobarbital, ato que acaba com sua vida.
Analisando sua morte, Alberto Fuguet disse:
“Caicedo é o elo perdido do boom. E o inimigo número um de Macondo. Não sei até que ponto se suicidou ou por acaso foi assassinado por García Márquez e a cultura vigente na época. Era muito menos o roqueiro que os colombianos queriam, e mais um intelectual. Um nerd super atormentado. Tinha desequilíbrios, angústia de viver. Não estava cômodo na vida. Tinha problemas de como manter-se em pé. E tinha que escrever para sobreviver. Se matou porque viu demasiado”, diz.
massa. parece as coisas q o santiago nazarian escreve, será q conhece?
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